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As dificuldades de aprendizagem são uma realidade para mais ou menos 80% destas crianças, havendo uma maior incidência naquelas que desenvolveram hidrocefalia como consequência da malformação Arnold Chiari, tornando-se mais evidentes depois do ingresso escolar, manifestando-se essencialmente por problemas do foro perceptivo, orientação espacial, lateralização, coordenação visuo-motora, motricidade fina, atenção, memorização, raciocínio abstracto e cálculo numérico (Garcia et al, 2002; Sandler, 2003; Banister, 1991).

Embora as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer simultaneamente com outras condições desvantajosas (por exemplo, dificuldades sensoriais) e/ou com influências extrínsecas tais como as características do ambiente que o rodeia, elas não constituem por si só o resultado dessas condições. (Fonseca, 1996). Todas as perturbações inerentes a estas crianças podem traduzir-se num quadro de “dificuldades de aprendizagem” que surgem secundariamente a condições/desordens/limitações ou deficiências devidamente diagnosticadas a nível sensorial, neurológico, psíquico e/ou ambiental (Fonseca, 1984,1989).

Abcrombie (1964, cit. Rodrigues, 2000), afirma que a limitação do movimento voluntário pode, para além de limitar o desenvolvimento perceptivo, interferindo negativamente na aprendizagem, pode afectar a capacidade intelectual consequentemente a nível mental. Rodrigues (2000) relaciona a influência da experiência motora nos conceitos de esquema corporal e organização espacial e reforça esta ideia citando Ajuriaguerra e Stuki (1972) que dizem ser a estrutura neuromotora, a responsável pela consciencialização do seu corpo e ainda das adaptações às novas situações, baseadas na orientação no espaço. Não é de estranhar que nestas crianças a alteração da imagem corporal e a relação espacial seja muitas vezes reflectida nos seus desenhos, principalmente quando se desenham a eles próprios com os membros inferiores destacados ou projectados dos corpos (Sandler, 2003).

Auto-retratos

Auto-retratos desenhados por crianças com Spina Bífida In “living with Spina Bífida”,Sandler (2003)

O mesmo autor, refere ainda que, as crianças com SB apesar de terem os conceitos cima/baixo e esquerda/direita bem intrínsecos, têm grandes dificuldades em relaciona-los no espaço. O processo de interiorização corporal e espacial resulta da imagem do corpo o que subsequentemente vai interferir na lateralização e direccionalidade (Fonseca, 1984).

Bannister (1991) refere que 50% das crianças com SB apresentam fracas capacidades na função percepção visual consequentes da grande incidência de estrabismo com as dificuldades que lhes são inerentes. Apesar da grande maioria não apresentar alterações na acuidade visual, a coordenação motora dos olhos, apresenta grandes dificuldades, na visão binocular, no processamento e ainda na interpretação dessa informação, considerando estas áreas particularmente comprometidas nestas crianças.

Sandler (2003) relaciona a pobre coordenação visuo-motora e a limitação da sua motricidade, relativamente às capacidades necessárias para a aquisição da autonomia. Constituindo assim um dos maiores obstáculos à integração escolar (ex. autoalgaliações, que exigem uma coordenação visuo-motora e a percepção do espaço, sendo agravada esta dificuldade nas raparigas pois a visualização da uretra para a introdução da algália é feita através de um espelho). As dificuldades na percepção espacial/motricidade fina, repercutem-se nestas crianças sendo evidentes através dos desenhos ou escrita (disgrafia) e na sua organização em folha de papel (Sandler, 2003).Considera ainda que a incapacidade na percepção visual a dificuldade mais comum nestas crianças, vai condicionar a sua aprendizagem nos cálculos, raciocínio numérico e os conceitos lógico/abstractos.

Razão pela qual estas crianças são muitas vezes denominadas de “preguiçosas” necessitando de apoio educativo nas disciplinas de matemática e disciplinas que envolvam desenho e construção, porque é lhes difícil visualizar como vai ficar o desenho (geometria/trigonometria). Os problemas no planeamento espacial podem ser evidentes nos seus desenhos ou apenas pela caligrafia e organização da folha de papel consequências da disfunção na motricidade fina. Estas dificuldades quando associadas ao esforço que estes jovens fazem para tentar acompanhar os colegas são muitas vezes são a razão de fadiga, desmotivação e uma diminuição da auto-estima a nível académico e habitualmente dão início ao ciclo de falhanços e frustrações (Sandler 2003).

Refere ainda que a alteração da percepção visual pode também estar na origem de um quadro de défice de atenção podendo estar associado à desmotivação por dificuldade no processamento de informação ou simplesmente por estar relacionado com a insatisfação sentida por estes quando estão integrados numa classe inadequada ao seu nível cognitivo, sendo que tudo isto vai condicionar as capacidades de memorização. Esta situação quando não é compreendida pelos professores e pelos próprios jovens com Spina Bífida pode levá-los a pensar que são “preguiçosos ou estúpidos” o apoio da família e professores nesta fase torna-se crucial na estruturação e consistência da auto-estima do jovem e todos estes problemas de deficit de atenção não devem constituir obstáculos a um futuro com sucesso (Sandler, 2003).

(Excerto retirado da dissertação para obtenção de grau de Mestre na Faculdade de Motricidade Humana, Integração/Inclusão de Jovens com Spina Bífida no Ensino Regular…A Voz da Experiência” Maria Isabel Dias da Costa Malheiro, 2005)